Política Urbana nas Escolas

Nosso grupo de pesquisa, assim como toda rede Observatório das Metrópoles, está comprometido com a extensão e com a divulgação científica, porque acreditamos que esses elementos são essenciais para garantir que o conhecimento produzido na Universidade possa ser traduzido em resultados para a sociedade como um todo. Nesse sentido visitar as escolas do Rio de Janeiro para falar das nossas pesquisas foi uma ótima oportunidade para dividir nossos resultados, especialmente porque nos deu a chance de pensar junto com os alunos como as intervenções estudadas têm afetado suas vidas e seu dia a dia. 

Visitamos três CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) do município do Rio de Janeiro, e neles organizamos dinâmicas que combinaram o conteúdo estudado pelos alunos com as pesquisas desenvolvidas pelo núcleo, de modo que pudéssemos contribuir com sua formação.

Saiba mais sobre as atividades em cada escola

 

Atividade no CIEP 336 – Octávio Malta (Campo Grande)

O grupo organizou uma atividade no CIEP 336, em Campo Grande, que conversasse com os os temas que os alunos do segundo e terceiro ano estavam abordando, em contato com as disciplinas de Geografia e Sociologia. Estiveram presentes 4 turmas, totalizando 110 alunos, com os quais fizemos a atividade em duas seções.

As atividades começaram com a apresentação dos trabalhos que os alunos estavam desenvolvendo sobre segregação espacial, e em um segundo momento nosso grupo propôs uma discussão sobre habitação e direito à cidade a partir da exibição do documentário “Realengo, aquele desabafo!’’, produzido pelo GT Habitação e Cidade. Os alunos se organizaram em rodas de conversa que focaram na política de reassentamento de favelas,  e para ajudar nas discussões foram levadas imagens que pudessem provocar nos alunos reflexões sobre a cidade do Rio de Janeiro a partir dos trajetos e histórias cotidianas do bairro onde moram e na cidade como um todo, além de fazer pensar em diferentes formas de moradia. Por exemplo, por saber que alguns alunos residem nos condomínios Programa Minha Casa Minha Vida foram escolhidas fotos dos empreendimentos, além de imagens de lugares que fazem parte de seus trajetos em Campo Grande como a linha do trem, o BRT e o calçadão de Campo Grande. Também foram levadas imagens de lugares que não são de fácil acesso para eles, como a Barra da Tijuca e o Porto Maravilha.

Durante a dinâmica os grupos de alunos escolheram duas imagens que os ajudassem a discutir as mudanças na cidade, no bairro e no cotidiano da Zona Oeste, e depois disso um representante de cada grupo apresentou o resultado das discussões para a turma. 

Segundo Ariane Brandão, bolsista de iniciação científica do nosso grupo: “As reflexões renderam bons debates dentro dos grupos e com a turma, pois os alunos se sentiram confortáveis para falar do tema e reconheceram as imagens apresentadas. Uma das reflexões foi o problema de mobilidade, que para eles tudo estava longe. Eles reconheceram as imagens da cidade, sabem onde ficam, porém a distância e os meios de transporte dificultam a sua ida. Por exemplo, o Porto Maravilha que para chegarem deveriam pegar um ônibus, mais o trem, mais um caminho a pé e para voltar para casa, o mesmo trajeto, somando cerca de quatro horas apenas de deslocamento.”

 

Atividade no CIEP 303 – Ayrton Senna da Silva (Rocinha)

No CIEP 303 o grupo fez atividades com os alunos do terceiro ano, dentro do programa da disciplina de sociologia, e levamos para a dinâmica nossa pesquisa sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A proposta foi discutir os desdobramentos do programa no território, em diálogo com o dia a dia dos alunos, e como seu planejamento conversa ou conflita com o Plano Diretor da Rocinha, elaborado em 2006. Para isso começamos apresentando os resultados da pesquisa, focando em como o PAC e suas obras no Rio estiveram ligados aos grandes eventos sediados na cidade, como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, e como os arranjos institucionais entre os diferentes níveis federativos influenciaram as obras.

Em um segundo momento exibimos video o “Plano Diretor da Rocinha: Um Desafio a Ser Realizado”, elaborado para ser apresentado durante oficina do Territórios em Movimento na Rocinha, que contrapõe as promessas do PAC 2 com as propostas do Plano Diretor da Rocinha. Foi depois realizada a atividade Cartografia afetiva da Rocinha, na qual a turma foi dividida em três grupos,cada um recebendo um mapa da Rocinha, fotos ligadas às intervenções do PAC no território, canetas e post-its. Foi pedido que através das fotos os alunos identificassem os locais nos mapas e que colocassem suas percepções em relação ao território através dos Post-its rosas, verdes e amarelos simbolizando respectivamente as fragilidades, as potências e pontos que não chegavam a ser uma fragilidade, mas que poderiam ser melhoradas

Na apresentação feita pelos grupos, os alunos reconheceram os benefícios das obras do PAC, porém as imagens de falta de saneamento e de acúmulo de lixo foram as que mais chamaram a atenção e que mais ganharam destaques, uma vez que os alunos reconheciam essas fragilidades em diversos pontos no mapa, com o resultado final sendo um mapa com mais fragilidades e coisas a serem melhoradas do que potências. 

 

Atividade no CIEP 305 – Heitor dos Prazeres (Pedra de Guaratiba)

A atividade teve como objetivo discutir habitação e direito à cidade com os alunos do ensino médio da escola, usando como um primeiro disparador a exibição do documentário “Realengo, aquele desabafo, produzido pelos pesquisadores do Observatório das Metrópoles. A discussão sobre o documentário foi seguida da apresentação de imagens escolhidas para ajudar a provocar nos alunos reflexões sobre a cidade do Rio de Janeiro, a partir dos trajetos e histórias cotidianas no bairro onde moram e das suas formas de moradia. Nas imagens eram retratados condomínios do Programa Minha Casa Minha Vida (local de moradia de alguns alunos), pontos de referência da região de Guaratiba e da Zona Oeste de forma mais ampla, os principais modais de transporte que atendem à região e também algumas centralidades da cidade do Rio de Janeiro e que não são de fácil acesso para os alunos, como a zona portuária.  

Os grupos então se organizaram em rodas de conversa, cada uma contando com um pesquisador do grupo Habitação e Cidade, e então cada grupo escolheu um conjunto de imagens para representar suas reflexões sobre as mudanças que ocorreram na cidade e as influências em seus cotidianos e nos bairros da Zona Oeste. Para encerrar a atividade os grupos apresentaram para todos as imagens escolhidas e o que tinha surgido de cada roda de conversa, e as reflexões renderam ricos debates nos grupos e com a turma, sendo que o uso das imagens provocou reflexões e facilitou a exposição das ideias dos alunos participantes da atividade. Dentre os temas mais destacados na discussão estão: as condições de moradia dos atendidos pelo Programa Minha Casa Minha Vida, o acesso à infraestrutura urbana (em especial saneamento básico), a relevância de equipamentos públicos de cultura e lazer para juventude, e a mobilidade urbana como grande entrave de acesso à cidade de forma ampla.

 

Roda de Diálogo “Pontes entre a pesquisa acadêmica e o ensino escolar”

A atividade realizada no CIEP 336 – Octavio Malta, teve como desdobramento a realização de uma atividade na XXV Semana de Planejamento Urbano e Regional, no dia 11 de outubro de 2019, intitulada de “Roda de Diálogo: Pontes entre a pesquisa acadêmica e o ensino escolar”. A atividade foi coordenada por pesquisadores do Observatório das Metrópoles e teve como convidados 40 alunos das turmas de 1º, 2º e 3º ano do CIEP 336 Octávio Malta.

Ao chegarem no campus da Ilha do Fundão os alunos foram recepcionados no Centro de Tecnologia pelos pesquisadores do grupo, que começaram o encontro falando sobre o número de estudantes e profissionais que atuam na Universidade, a importância de um ensino público gratuito e sua expansão nos últimos anos, além de reforçar a importância das políticas de ação afirmativa. A pesquisadora Alice, que também integra a Associação de Pós-graduandos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (APG/UFRJ), fez pontuações importantes sobre a conjuntura política atual e seus reflexos sobre a universidade pública e a pesquisa científica no país. 

Depois do acolhimento, os alunos foram levados para um passeio pela universidade, sendo guiados pelos pesquisadores pelos corredores, salas de aula e laboratórios do Centro de Tecnologia e prédios anexos. Em sequência eles foram recepcionados pela equipe de pesquisadores do Observatório das Metrópoles, onde puderam dialogar e debater sobre a universidade e suas perspectivas quanto ao ensino superior.   

Logo depois, os alunos se dirigiram ao prédio da Letras onde realizou- se a atividade “Roda de Diálogos: Pontes entre a pesquisa acadêmica e o saber escolar”, onde eles apresentaram as suas reflexões sobre segregação espacial, tema que vem sendo trabalhado nas disciplinas de sociologia e geografia. Além disso, trouxeram diversas questões e questionamentos aos professores e pesquisadores que estavam presentes sobre as temáticas de mobilidade urbana, questão habitacional, dificuldades nos deslocamentos casa/trabalho/escola e, por fim, a importância da universidade e da atividade nas suas vidas.  Além da troca de saberes entre as duas instituições, a Roda de Diálogos foi de grande importância para a articulação entre pesquisadores e os estudantes. Abriu-se a possibilidade de interlocuções com os temas estudados por pesquisadores do Instituto e os alunos do CIEP, integrando-os às suas experiências cotidianas.